quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Crônica O Vilarejo



            O Vilarejo de Paranauê virou motivo de chacota nas arredondezas. É verdade. Se não tivesse presenciado o acontecimento, não teria acreditado se outra pessoa me contasse. Foi uma tristeza de dar dó, o que ocorreu por essas bandas. Uma judiação, mas foi merecido pela safadeza do ser humano.

            Nós aqui da vila somos muito apegados às leis e aos bons costumes, a ponto de acatarmos obedientes o que o Santo Padre falava nas missas. Temeroso, o povo acreditava nessas “lorotas” que o padre e o bispo ensinavam no catecismo. Bem que eu desconfiada até que a verdade veio à tona.

            Mas o que é isso minha gente? Duvidam de mim? Pois eu vou lhes contar.

            No antigo casarão da minha ruela morava uma jovem casada. Cobiçada por todos os homens devido a sua beleza estonteante. Morena de olhos azuis, todas as tardes, Maria se debruçava na janela de pé direito alto, com seu vestido velho, o decote favorecia os seios deixando a mostra o colo da cor do pecado. Maria ficava ali à espera do marido.

            Isso acontecia todos os dias, sempre no mesmo horário. O marido ciumento, já havia me confidenciado que não gostava de vê-la assim tão exposta. Sabe como é? Vizinhos curiosos faziam o papel de radares. Ela era monitorada pelas línguas fofoqueiras das invejosas que a bisbilhotavam.

            Eu só observava de longe e no fundo sabia que aquela situação não acabaria bem. Eu pressentia as nuvens da desgraça se avizinhando.

            O bispo, que de santo não possuía nada, resolveu caminhar por aquelas bandas bem na hora que a jovem Maria estava na janela. O padre, que deveria ter vergonha na cara, também passou a frequentar a rua, logo após o bispo. E, por fim, o sacristão também tentava suas investidas.

            Mas eles não eram homens de Deus que deviam absolver o rebanho e todos os julgavam santos?

            É verdade. O fato é que começaram com gracejos e Maria, uma esposa fiel, contou logo a Zé. Esse ficou “fulo” da vida e fez com que a jovem esposa marcasse um encontro com todos eles em horários diferentes.

            O casarão onde morava, era propício para isso, com vários cômodos e quartos não se haveria problema para por o plano em prática. Num primeiro momento, Maria se recusou, mas Zé foi irredutível convencendo-a.

            Então chegou o grande dia. E, como sempre fazia, o bispo, no mesmo horário, andava naquela rua, fez seu gracejo e Maria marcou o encontro no horário estipulado por Zé. E assim se sucedeu com o Padre e com o sacristão.

            No dia e hora marcada, o bispo apareceu no casarão batendo à porta. Maria atendeu e o levou a um quarto pedindo que aguardasse um minuto que logo voltaria. Já deu pra imaginar que o Padre foi parar em outro aposento e o sacristão em outro.

            Enquanto isso, Zé permanecera escondido e quando abriu de surpresa a porta do quarto em que o bispo se encontrava que não escondeu a cara de espanto e surpresa em não ver Maria. O marido, já foi logo perguntando o que ele queria com a mulher dele e simultaneamente foi desafivelando o cinto. O bispo branco igual uma cera, não conseguia responder e tentou chegar até porta, mas foi surpreendido com uma surra que nunca tomara antes. Ele suplicou para que Zé parasse e lhe entregou todo o ouro e dinheiro que possuía consigo. O marido ficou satisfeito e deixou-o correr atarantado, caindo vez ou outra, devido à ausência de força nos cambitos pela surra que tomara.

            No instante seguinte, era a vez do padre que apanhou na mesma proporção do bispo, pois com o dinheiro que carregava conseguiu negociar sua liberdade e foi embora o mais rápido que suas pernas correram.

            O problema foi o sacristão que pobre não conseguiu negociar e apanhou muito, até ter os lombos cortados e para vingança ficar completa, Zé pediu a mulher um copo de salmoura e despejou nos machucados do coitado que urrava de dor. Como se não bastasse, colocou o pobre numa posição humilhante — de quatro e deixou uma vela arder em seus fundilhos.

            O corretivo merecido virou um escândalo. Todos comentavam o ocorrido.

            Zé amava Maria incondicionalmente, lhe entregou todo o dinheiro para que se embelezasse ainda mais. Maria ficou deslumbrante e no domingo, resolveu ir à missa matinal. Quando colocou o pé na porta, o bispo calou-se repentinamente mantendo as mãos levantadas para o céu e olhou para a porta de boca aberta. Todos perceberam a mudança brusca e viraram seus pescoços para ver o que distraíram a atenção dele. Aí o burburinho foi generalizado. A cada passo que Maria adentrava o recinto, a admiração era imensa fazendo com que o bispo se atrapalhasse nas orações:

            — Lá vem a nossa rainha...

            — Nas tuas costas e na minha... — emendou o padre.

            — E eu que não tinha dinheiro meu serviu de candeeiro... — terminou o sacristão.




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