O
Vilarejo de Paranauê virou motivo de chacota nas arredondezas. É verdade. Se não
tivesse presenciado o acontecimento, não teria acreditado se outra pessoa me
contasse. Foi uma tristeza de dar dó, o que ocorreu por essas bandas. Uma judiação,
mas foi merecido pela safadeza do ser humano.
Nós
aqui da vila somos muito apegados às leis e aos bons costumes, a ponto de
acatarmos obedientes o que o Santo Padre falava nas missas. Temeroso, o povo acreditava
nessas “lorotas” que o padre e o bispo ensinavam no catecismo. Bem que eu
desconfiada até que a verdade veio à tona.
Mas
o que é isso minha gente? Duvidam de mim? Pois eu vou lhes contar.
No antigo casarão da minha ruela morava uma jovem casada. Cobiçada por todos os homens devido a sua beleza estonteante. Morena de olhos azuis, todas as tardes, Maria se debruçava na janela de pé direito alto, com seu vestido velho, o decote favorecia os seios deixando a mostra o colo da cor do pecado. Maria ficava ali à espera do marido.
Isso
acontecia todos os dias, sempre no mesmo horário. O marido ciumento, já havia
me confidenciado que não gostava de vê-la assim tão exposta. Sabe como é? Vizinhos
curiosos faziam o papel de radares. Ela era monitorada pelas línguas
fofoqueiras das invejosas que a bisbilhotavam.
Eu
só observava de longe e no fundo sabia que aquela situação não acabaria bem. Eu
pressentia as nuvens da desgraça se avizinhando.
O
bispo, que de santo não possuía nada, resolveu caminhar por aquelas bandas bem
na hora que a jovem Maria estava na janela. O padre, que deveria ter vergonha
na cara, também passou a frequentar a rua, logo após o bispo. E, por fim, o
sacristão também tentava suas investidas.
Mas
eles não eram homens de Deus que deviam absolver o rebanho e todos os julgavam
santos?
É
verdade. O fato é que começaram com gracejos e Maria, uma esposa fiel, contou
logo a Zé. Esse ficou “fulo” da vida e fez com que a jovem esposa marcasse um
encontro com todos eles em horários diferentes.
O
casarão onde morava, era propício para isso, com vários cômodos e quartos não
se haveria problema para por o plano em prática. Num primeiro momento, Maria se
recusou, mas Zé foi irredutível convencendo-a.
Então
chegou o grande dia. E, como sempre fazia, o bispo, no mesmo horário, andava
naquela rua, fez seu gracejo e Maria marcou o encontro no horário estipulado
por Zé. E assim se sucedeu com o Padre e com o sacristão.
No
dia e hora marcada, o bispo apareceu no casarão batendo à porta. Maria atendeu
e o levou a um quarto pedindo que aguardasse um minuto que logo voltaria. Já
deu pra imaginar que o Padre foi parar em outro aposento e o sacristão em
outro.
Enquanto
isso, Zé permanecera escondido e quando abriu de surpresa a porta do quarto em
que o bispo se encontrava que não escondeu a cara de espanto e surpresa em não
ver Maria. O marido, já foi logo perguntando o que ele queria com a mulher dele
e simultaneamente foi desafivelando o cinto. O bispo branco igual uma cera, não
conseguia responder e tentou chegar até porta, mas foi surpreendido com uma
surra que nunca tomara antes. Ele suplicou para que Zé parasse e lhe entregou
todo o ouro e dinheiro que possuía consigo. O marido ficou satisfeito e deixou-o
correr atarantado, caindo vez ou outra, devido à ausência de força nos cambitos
pela surra que tomara.
No
instante seguinte, era a vez do padre que apanhou na mesma proporção do bispo,
pois com o dinheiro que carregava conseguiu negociar sua liberdade e foi embora
o mais rápido que suas pernas correram.
O
problema foi o sacristão que pobre não conseguiu negociar e apanhou muito, até
ter os lombos cortados e para vingança ficar completa, Zé pediu a mulher um
copo de salmoura e despejou nos machucados do coitado que urrava de dor. Como
se não bastasse, colocou o pobre numa posição humilhante — de quatro e deixou
uma vela arder em seus fundilhos.
O
corretivo merecido virou um escândalo. Todos comentavam o ocorrido.
Zé
amava Maria incondicionalmente, lhe entregou todo o dinheiro para que se
embelezasse ainda mais. Maria ficou deslumbrante e no domingo, resolveu ir à
missa matinal. Quando colocou o pé na porta, o bispo calou-se repentinamente
mantendo as mãos levantadas para o céu e olhou para a porta de boca aberta.
Todos perceberam a mudança brusca e viraram seus pescoços para ver o que distraíram
a atenção dele. Aí o burburinho foi generalizado. A cada passo que Maria
adentrava o recinto, a admiração era imensa fazendo com que o bispo se atrapalhasse
nas orações:
—
Lá vem a nossa rainha...
—
Nas tuas costas e na minha... — emendou o padre.
—
E eu que não tinha dinheiro meu cú serviu de candeeiro... — terminou o
sacristão.
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